Bancos recomendam depósitos e acções

O Diário Económico visitou como cliente-mistério cinco balcões de bancos para saber onde aplicar 20.000 euros. Descubra o que as instituições estão a recomendar.

Joga no euromilhões? É uma forma de ter muito dinheiro para investir. Olhe, eu cada vez que aposto fico mais pobre, porque ainda não ganhei nada", disse o bancário do Santander com um sorriso nervoso. Numa época em que os bancos travam uma "guerra" pelos depósitos dos clientes, até o humor (ou tentativa disso) pode servir para desanuviar o ambiente durante a negociação das taxas de juro.

As negociações decorrem num espaço privado, só terminam por iniciativa do cliente e a mesa de trabalho enche-se de documentos impressos do computador sobre produtos financeiros. As armas secretas não se guardam para o fim da conversa. Assim que o cliente se senta, e explica ao que vem, poderá ouvir: "Temos aqui um depósito que não está publicitado em lado nenhum."

Com os mercados interbancários praticamente fechados aos bancos portugueses, as instituições financeiras só têm neste momento duas grandes fontes de liquidez: os empréstimos que o BCE vai concedendo e os depósitos dos clientes. Por isso, nunca como agora, os bancos portugueses estiveram tão empenhados em atrair poupanças.

O Diário Económico visitou como cliente mistério as agências de cinco bancos portugueses na zona da Grande Lisboa - Caixa Geral de Depósitos, Banco Espírito Santo, Millenium BCP, BPI e Santander- e comprovou isso mesmo. A missão era clara: saber quais os melhores produtos financeiros disponíveis para um montante de 20 mil euros, investido a dois anos, e com um perfil de risco moderado.

Esta semana, a meio da manhã, o cliente mistério entrou na CGD, o primeiro banco a ser confrontado com esta pergunta. Foi atendido por um comercial, que não estando a par de todas as ofertas, o encaminhou para um segundo funcionário. Mesmo sem perguntar qual o perfil do investidor, este bancário começou por sugerir um depósito a prazo com capital garantido (Depósito Crescente Mais a 3 Anos).

No decorrer da conversa, o funcionário revelou também que com um investimento superior, na ordem dos 100 mil euros, conseguiria negociar uma taxa de juro a rondar os 4,5%, mas apenas por um período de seis meses. Uma estratégia pouco persuasiva para quem tinha apenas disponível um quinto desse valor para investir.

Ao contrário do que o cliente-mistério estava à espera, foi também aconselhado o investimento em bolsa. "As acções bateram no fundo e esta é uma boa altura para investir parte do capital. Pode comprar da EDP", acrescentou.

Apesar dos mercados financeiros estarem em queda, os funcionários do Millenium BCP e do BES também tentaram convencer o cliente mistério a investir uma fatia dos 20 mil euros em acções dos respectivos bancos.

Deixando o valor à responsabilidade do cliente, disseram que a rentabilidade na acções poderia ser mais interessante do que a conseguida num depósito a prazo. "Vale a pena porque as acções do BCP são as mais transaccionadas", disse o funcionário do banco liderado por Carlos Santos Ferreira. "Os títulos do Banco Espírito Santo vão subir", sublinhou a funcionária do BES.

De qualquer forma, tanto num banco como no outro, o cliente foi avisado que, pelo menos 10 mil euros, deveriam ir para um depósito com capital garantido.

Ao contrário do que se passou no balcão da Caixa Geral de Depósitos, no BCP e no BES foram apresentados trunfos mais convincentes para cativar o cliente. "Temos aqui um depósito que não está publicitado em lado nenhum", revelou o bancário do BCP, ao mesmo tempo que consultava um dossiê. "Chama-se depósito Traga + e, entre os 10 e os 24 mil euros, oferece uma TANB de 4%", continuou.

Este é um valor que está em linha com os números mais recentes do Banco de Portugal. Os dados mostram que em Setembro os bancos ofereceram em média um juro anual de 4,03% para os novos depósitos. Tratou-se do valor mais elevado desde Novembro de 2008.

No caso do BES, a estratégia passou pela sugestão da Nova Conta Rendimento CR e de outro produto financeiro mais complexo: títulos de dívida senior do BES, com uma rentabilidade anual bruta mínima de 6% e um máximo de 8%.

"Mas que garantias dá este produto?", perguntou o cliente-mistério, lendo no documento informativo que existe o risco de perda total ou parcial do capital investido em caso de evento de crédito. "No caso do BES há uma história com 140 anos", tranquilizou a funcionária.

Os bancários do BPI e do Santander têm uma opinião diferente. Esta é uma época em que se deve investir todos os ovos no mesmo cesto. Ou seja, aplicar o dinheiro em depósitos com capital garantido. "Os portugueses deviam poupar mais, nem que seja 50 euros por mês", diz o funcionário do BPI. A seguir, olhou para o ecrã do computador. "Podemos negociar uma taxa bruta entre os 3% e os 4% ao ano. Mas se subscrever um PPR, com 250 euros, até podemos dar mais qualquer coisa", ressalvando que estas promoções não estão visíveis no site ou balcões. Na expectativa de o cliente ainda ter mais dinheiro para investir, o bancário lançou o isco. "Nós privilegiamos os clientes com 20 mil euros, mas se tivesse 50 ou 100 mil...", deixando a entender que a taxa de juro para este valor seria mais alta.

Desde o dia 1 de Novembro que estão em vigor as novas regras do Banco de Portugal para a remuneração de depósitos. O regulador português quer evitar que os bancos tomem demasiado risco ao praticarem juros muito elevados nos depósitos. Por isso, impôs penalizações às instituições que pratiquem juros nestas aplicações, acima de um determinado patamar.

"Joga no euromilhões?", perguntou o bancário do Santander, quando o cliente-mistério explicou que não tinha mais de 20 mil euros para investir. Ao ouvir uma resposta negativa, adiantou que a "aposta do banco é no capital garantido." Depois, sugeriu dois depósitos a prazo (Poupança Garantida e Protecção Garantida) e aconselhou a esperar mais um ou dois meses para quem desejar investir na bolsa. "Isto ainda vai cair mais."

Apesar da concorrência e das estratégias comerciais para a captação de depósitos serem diferentes entre os funcionários dos bancos, há uma característica comum a todos eles: simpatia, cartões-de-visita e a promessa de um telefonema para saber se já decidiu em que bancos vai investir. Em tempo de crise, a perseverança é a melhor técnica para conquistar os clientes com dinheiro.

BES
No caso do BES as sugestões de investimento passaram por três produtos diferentes: o depósito ‘Nova Conta CR'; uma aplicação em dívida sénior do próprio banco e em acções... do BES. "Os títulos do BES vão subir", sublinhou a funcionária.

Millennium BCP
O funcionário do BCP recomendou ao cliente-mistério a aplicação de uma parte dos 20 mil euros em acções do BCP. "Vale a pena porque as acções do BCP são as mais transaccionadas", garantiu o bancário.

CGD
A CGD sugeriu ao cliente-mistério o investimento em dois produtos com níveis de risco totalmente opostos: um depósito a prazo a três anos e acções da EDP. "As acções bateram no fundo e esta é uma boa altura para investir parte do capital", referiu o bancário.

BPI
Depósitos e um PPR foram as sugestões dadas pelo BPI. "Podemos negociar uma taxa bruta entre os 3% e os 4% ao ano. Mas se subscrever um PPR, com 250 euros, até podemos dar mais qualquer coisa", afirmou o funcionário.

Santander Totta
As recomendações do Santander Totta foram focadas apenas em produtos de poupança com capital garantido. Tendo por isso sugerido o investimento em dois depósitos a prazo do banco.

fonte:http://economico.sapo.pt/

publicado por adm às 22:13 | comentar | favorito